Ainda não existe um tratamento para a cura da síndrome dos ovários policísticos. As medidas terapêuticas empregadas são utilizadas para alívio sintomático e voltadas às complicações metabólicas relacionadas à doença.

O tratamento padrão atual inclui mudança no estilo de vida, perda de peso, agentes farmacológicos orais e modalidades cirúrgicas. Os medicamentos receitados somente pelo profissional médico têm como alvo a ovulação, os andrógenos e a resistência à insulina.

O principal e mais usado medicamento para pacientes com SOP é o modulador de receptor de estrogênio seletivo oral como o citrato de clomifeno. Convencionalmente, a indução da ovulação é realizada pela administração oral do citrato de clomifeno, iniciado entre o segundo e o quinto dia do fluxo menstrual espontâneo ou induzido, ou a qualquer tempo, se constatados ausência de dominância folicular e endométrio fino.

O tratamento costuma ser realizado da seguinte forma:

(1) inicia-se a administração do citrato de clomifeno na dose de 50 mg por dia por cinco dias;

(2) realiza-se ultrassonografia transvaginal entre os dias 11 e 14 do ciclo;

(3) constatada resposta ovariana, orienta-se o coito regular, diário ou em dias alternados, a partir do 10º dia do ciclo e até o dia seguinte ao previsto para a ocorrência da ovulação. Ao se observar a existência de folículo dominante pré-ovulatório (diâmetro médio ≥ 17 mm), o médico pode ou não administrar  5.000 UI de gonadotrofina coriônica altamente purificada ou 250 mcg de gonadotrofina coriônica recombinante; a ruptura folicular deve acontecer em torno de 38 horas após essa aplicação

Na ausência de resposta folicular, a dose do clomifeno vai aumentando. Inicia-se na dose de 100 mg por dia por mais cinco dias; repete-se a ultrassonografia transvaginal depois de uma semana e, constatada resposta ovariana, orienta-se o coito; constatada nova ausência de resposta folicular, inicia-se imediatamente a administração do citrato de clomifeno, na dose de 150 mg por dia por mais cinco dias; repete-se a ultrassonografia transvaginal depois de uma semana. A dose máxima é de 150mg por dia. Caso a ovulação não aconteça caracteriza – se resistência ao indutor.

Segundo o trabalho desenvolvido por Wang R em 2019, o clomifeno é ineficaz em 40% das pacientes com SOP e está associado a efeitos colaterais significativos, como dores de cabeça, inchaço, alterações de humor e sensibilidade mamária

O letrozol é considerado o tratamento de primeira linha para induzir a ovulação, com a capacidade de melhorar as taxas clínicas de gravidez e reduzir o tempo até a gravidez em mulheres com SOP.

Ao menos quatro metanálises recentes concluíram pela superioridade da estimulação com letrozol em ao menos um dos seguintes aspectos: espessura endometrial, taxa de ovulação, taxa de gravidez clínica e taxa de nascidos. Não se identificaram diferenças significativas nas taxas de hiperestimulação ovariana, gravidez múltipla e perdas gestacionais.  No entanto, está associada a maiores riscos de ondas de calor, artralgias, fadiga e mialgias

A dose diária pode variar de 2,5 a 7,5 mg, mas espera-se ovulação em cerca de 70% das mulheres em resposta ao tratamento com 5 mg por dia em protocolo semelhante ao utilizado para o citrato de clomifeno.

Entre todos os agentes insulinossensibilizadores, a metformina é o mais utilizado, particularmente entre adolescentes com diminuição da tolerância à glicose, resistência a insulina ou obesidade. Ao diminuir a gliconeogênese hepática e aumentar a sensibilidade periférica à insulina, melhoram os parâmetros metabólicos associados à SOP: níveis de androgênios, insulina e lipídeos e padrão menstrual, favorecendo até a ovulação.

Os efeitos colaterais mais comuns são os gastrointestinais: náuseas, dor abdominal e vômitos, principalmente no início do tratamento com a dose hábil. As taxas são menores com os comprimidos de liberação lenta. São relatados ainda flatulência, dispepsia, desconforto abdominal, distensão abdominal, fezes anormais, constipação, azia e hipoglicemia. Outro benefício seria a redução no risco de síndrome de hiperestímulo ovariano.

Para as adolescentes com SOP, os anticoncepcionais orais combinados continuam a ser a forma mais comum de tratamento, atuando nas manifestações androgênicas e na irregularidade menstrual. Os estrogênios atuam no eixo hipotálamo-hipófise, inibindo a secreção de LH, o que leva à diminuição da produção de androgênios pelo ovário e ao aumento da síntese hepática de SHBG, que, por sua vez, diminui o índice de testosterona livre. Contraceptivos orais associados ao uso de metformina também podem fazer parte do tratamento.

A gonadotrofina provou ser eficaz na indução da ovulação. Mas pode levar ao desenvolvimento de múltiplos folículos e aumentar o risco de síndrome de hiperestimulação ovariana.

Os principais antiandrogênios disponíveis de forma isolada são o acetato de ciproterona (progesterona), espironolactona, finasterida e flutamida. Porém todos são considerados teratogênicos, nenhum pode ser utilizado na gravidez, portanto não convém utiliza-los em mulheres que estão tentando engravidar.

Referências

  • Wang R, Li W, Bordewijk EM, Legro RS, Zhang H, Wu X, et al.. First-line ovulation induction for polycystic ovary syndrome: An individual participant data meta-analysis. Hum Reprod Update (2019) 25:717–32. doi: 1093/humupd/dmz029
  • Rosa-e-Silva AC. Conceito, epidemiologia e fisiopatologia aplicada à prática clínica. In: Síndrome dos ovários policísticos. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); 2018. Cap. 1. p. 1-15. (Série Orientações e Recomendações Febrasgo, nº 4, Comissão Nacional de Ginecologia Endócrina).

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