Os dois anos chegaram por aí? E com certeza você já ouviu falar nos “terrible two”, ou os terríveis dois anos! Ou pelo menos alguém já lhe veio com a frase “Ih, 2 anos? Boa sorte! ”

Os ‘terríveis dois anos’ é um termo usado para descrever os comportamentos às vezes desafiadores das crianças, que pode começar com 18 meses e ir até os 3 anos. Esse termo tem sido usado desde a década de 1950, quando as mães sofriam uma pressão cultural enorme em desempenhar seu papel de perfeita mãe, esposa e dona de casa. Os filhos tinham que estar de banho tomado, com roupas impecáveis sem nenhuma mancha para jantarem, comportados e em silêncio as 18:00 hs.

E como explicar as crianças nessa idade de 2 anos que não se enquadrariam de jeito nenhum nesse padrão? Tinha que haver uma explicação, algo que todos compreenderiam: “Não posso fazer nada! São apenas os terríveis dois anos.”

O que o adulto vê?

Criança mais chorosa, birras mais constantes, a criança morde, bate, da tapas, joga objetos e outros comportamentos antissociais, geralmente direcionados aos pais, outras crianças com quem ele tem contato, sua babá ou professoras da creche.

Ele fala “não” para tudo, por exemplo para se vestir, comer e dormir

Mau humor, especialmente na hora da soneca e das refeições.

Frustração. Seu filho fica desanimado pelos motivos mais bizarros (por aqui já teve choro porque não deixamos ele enfiar a mão na privada, pegar objetos do lixo, comer pomada de bumbum, essas coisas.. )

Maior egoísmo (tudo é meu!)

É a adolescência dos bebês! Por aqui meu filho está com 2 anos e 2 meses. Diz “não” para tudo, é a palavra mais ativa do vocabulário. “Não” para trocar de roupa, “não” quando tento ajuda – lo a comer, “não” para determinados livrinhos que quero ler com ele e muito choro para trocar a fralda (que antes era muito tranquilo). Até ai tudo bem, respeito os inúmeros “não” que são as vontades dele, e está tudo certo. Deixo ele comer sozinho e fazer uma sujeira danada no chão, negociamos a troca de roupa e a troca da fralda (na correria é dureza!). Requer muito mais paciência e tudo bem! Pouco antes passamos pela fase dele querer morder a gente, que durou uns 2 meses e passou.

Mas uma situação que foi um pouco frustrante para mim foi uma ida numa festinha de aniversário do filho de uma amiga nossa. O aniversariante estava completando 3 aninhos e estavam os amiguinhos do aniversariante, todos por volta de 3 anos também. O meu filho bateu numa criança, pegou uma bolinha da piscina de bolinhas e jogou no rosto de outra criança e do nada empurrou uma menina. Tudo na mesma festinha, num par de horas!

Não sei se é inevitável se sentir mal, mas eu me senti. É difícil ver seu filho sendo o “agressor” da vez. Todas as crianças brincando super bem, e seu  filho sendo o único batendo em todo mundo, fazendo escândalo e essas coisas exaustivas para os pais. E o pior, podendo machucar algum coleguinha. O que me aliviou nesse momento? A mãe de um dos meninos que meu filho bateu falou que o filho dela fazia a mesma coisa quando tinha a idade do meu filho. E que tudo bem, era uma fase, que logo iria passar. Ela pediu para o filho dela brincar um pouco com o meu (ele não queria, afinal era mais velho.. 3 anos né… não pega bem brincar com um menino de 2 anos.. rsrs) e eles se divertiram juntos. Correram, brincaram de pega-pega e deram muita risada.

E ai, mais uma vez eu lembrei que tudo são fases. Porque essa recordação tem que ser constante em nossa cabeça, talvez durante todo o período de crescimento da criança. E essa mãe me trouxe um grande alívio naquele momento. Como é bom mães que ajudam mães! Numa sociedade que só sabe julgar, uma desconhecida, mãe do agredido, no momento do aperto com uma palavra doce, é um grande alívio. Aí a gente se acalma, a paciência retorna e começamos a olhar novamente para a criança com mais empatia. (obrigada mãe da festinha!)

E para ter esse olhar mais empático para com a criança precisamos entender o que está acontecendo com ela. Porque esses “comportamentos ruins” são só a ponta do iceberg, é o que conseguimos enxergar. Precisamos mergulhar a fundo para saber o que está causando esse comportamento.

E a verdade é que os 2 anos é uma fase linda! É uma fase de descobertas!  Em torno de 2 anos a criança começa a ter um melhor entendimento dela e do mundo. Ela se reconhece como um ser individual e único, uma pessoinha que pode querer e desejar coisas por ela mesma!

Em cada choro, em cada birra, em cada contestação de autoridade, seu filho está te dizendo “mãe, eu não sou mais você! Eu quero ser eu! Eu quero pensar, sentir e agir sem ser controlado o tempo todo!”

Ou ela bate porque sente uma emoção muito intensa, não sabe o que fazer com o que está sentindo e recorre à agressão como uma estratégia para se acalmar. Outro motivo muito comum é bater porque está muito contente, quando fica nervoso ou se quer fazer carinho e não sabe como. Crianças batem porque não têm outros recursos, muitas vezes nessa idade mal sabem falar, estão iniciando esse processo agora. Lembra que eu falei que o meu filho empurrou uma menina “do nada”? Dois minutos antes ele estava observando a menina do meu colo. Pediu para sair do meu colo, foi até ela, e empurrou. Eu tirei meu filho de lá e falei que não podia empurrar. Alguns minutos depois ele começou a seguir essa mesma menina e imitava tudo o que ela fazia. Na verdade ele gostou da menina, queria brincar com ela. Mas não soube se expressar.

Você consegue imaginar esse mundão se abrindo para uma criança? Pensa em você no seu primeiro emprego, tendo que aprender tudo do zero, com chefe mandão, pessoas novas, aprendendo a se comportar de uma maneira mais formal, num ambiente de trabalho. Foi difícil né? Arrisco até a dizer que muitos choraram escondidos no banheiro…

Agora pensa pelo lado da criança: “Uau, que máximo! Tem um monte de coisas para fazer! Eu e minha mãe somos pessoas diferentes! Posso ter minhas próprias vontades! Mas… o que eu gosto? O que eu quero? Por que eu não posso fazer isso?”. A criança precisa conhecer quem ela é, o que ela gosta!

E como ela faz isso? Negando tudo! Não quero o que você quer! Eu gosto, eu quero! – É meu!

A criança está aprendendo a ser dona da vida dela. Está aprendendo a respeitar a sua individualidade, está desenvolvendo sua própria autonomia e está tentando se comunicar. E olha que legal, ela se sente segura para negar algo que você pediu!

Cabe a nós auxiliar essa criança a se expressar cada vez melhor, respeitar algumas de suas decisões (claro, não vamos deixar ela se colocar em perigo só porque ela quer) e ter muita paciência!

O que mais eu posso fazer?

  • ajuste suas expectativas: ter expectativas realistas sobre como são as crianças de 2 anos e o que você deve esperar delas em termos de comportamento pode ajudar bastante. Só porque seu filho agora sabe andar, falar e se alimentar sozinho não significa que ele está pronto para instruções de alto nível
  • permita que a criança explore mais: procure ir para ambientes seguros e deixe ela explorar a vontade
  • deixe ela tomar decisões: procure oferecer duas opções. Você pode oferecer ao seu filho uma banana ou uma maçã por exemplo, ambas escolhas saudáveis. Qual tênis você vai escolher hoje, o preto ou o azul?
  • deixe ela fazer as coisas por ela, mesmo que demore mais. Afinal, ela precisa aprender né?
  • leia para seu filho: algumas histórias ensinam que bater não é legal, por exemplo. É o caso do livro “Dino Davissauro”, que eu lí muito por aqui.
  • birra: para tirar a criança do acesso de birra é legal mudar o foco. Mostre alguma coisa do ambiente, um brinquedo legal, um passarinho passando. Não vai adiantar falar nada mesmo nessa hora…

Lembre – se. Os terríveis 2 anos não são tão terríveis assim… A sua criança está exatamente onde precisa estar com sua sabedoria. Nossa vida com eles é um espaço para crescermos de novas maneiras também. Aproveite a jornada!

Imagem de prostooleh no Freepik

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